Jeitinho brasileiro é uma expressão popularmente utilizada para se referir à forma leve, flexível, criativa e otimista de levar a vida, ao modo com que uma pessoa ou o povo brasileiro consegue improvisar de forma rápida e simples sobre diversas soluções que podem ser facilmente empregadas para as mais diferentes ocasiões, sem precisar, para isso, se utilizar de algum tipo de procedimento ou técnica que tenha sido previamente estipulado.
O emprego do termo pode ser positivo quando se refere à criatividade com que uma solução é encontrada e colocada em prática, mas negativa para os casos em que as soluções encontradas signifiquem alguma forma de corrupção ou malandragem empregada para tirar de algo ou alguém em uma determinada ocasião.
Vários teóricos renomados da ciência brasileira já fizeram algum tipo de consideração a respeito dessa expressão para exemplificar melhor.
Lado negativo do Jeitinho Brasileiro
Existem diversos exemplos para apresentar como funciona a conotação negativa do Jeitinho brasileiro. Um deles, bastante comum, é quando há a formação de uma fila grande e uma pessoa não quer permanecer nela aguardando um atendimento. Ela logo procura uma forma de conseguir o atendimento mais rápido em relação às outras pessoas presentes.
Dependendo da situação, ela pode se dirigir diretamente ao atendente e dizer que só vai fazer uma pergunta ou, em alguns casos, ela pode burlar a situação e fingir ter algum tipo de deficiência física ou prioridade para ser logo atendida.
Desta forma, o termo Jeitinho brasileiro pode ter sua conotação negativa quando ela é associada diretamente às situações que dizem respeito ao mau-caratismo, lábia, ausência de civismo, falta de educação e corrupção. Em qualquer um destes casos, a expressão é empregada com o objetivo de burlar regras e leis.
Lado positivo do Jeitinho brasileiro
Se a conotação negativa logo provoca desagrado, desconfiança e certa irritabilidade nas pessoas, o lado positivo já traz uma conotação diferente e até receptiva, pois que uma das principais qualidades do povo brasileiro, de um modo geral, é a criatividade.
Nestes casos ele vai procurar resolver uma solução difícil com uma perspectiva mais simples, mas ao mesmo tempo respeitando qualquer tipo de norma social imposta. Em muitos casos, esse Jeitinho brasileiro pode levar a invenções que podem ser amplamente adotadas para facilitar a vida das pessoas.
Nesta perspectiva positiva o brasileiro é reconhecido como um povo otimista que encontra excelentes soluções até mesmo para os problemas mais difíceis.
Estudos sociais sobre o Jeitinho brasileiro
Alguns estudos acadêmicos já foram realizados para se compreender melhor a terminologia referente ao Jeitinho brasileiro e a sua colocação no contexto histórico e social. De alguma forma, relaciona-se com o conceito de “homem cordial” apresentado pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902 – 1982), cujo traço de caráter (hospitalidade e generosidade) é própria do brasileiro que permanece viva a influência ancestral de padrões de bom convívio humano. Outros estudiosos que contribuíram com estudos dedicados ao Jeitinho brasileiro são: Roberto DaMatta e Lívia Barbosa.
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Roberto DaMatta
O antropólogo brasileiro Roberto DaMatta, em sua obra “O que faz o brasil, Brasil?”, compara as diferentes posturas adotadas pelos americanos e pelos brasileiros referentes às leis. Os primeiros possuem uma atitude mais respeitosa e zelosa, o que acaba gerando admiração e surpresa por parte dos brasileiros que estão acostumados a violarem regras. Além disso, o brasileiro percebe as instituições como órgãos estruturados que têm como objetivo coagir o indivíduo.
Em outras palavras, a natureza do estado coercitiva faz com que o brasileiro perceba uma realidade opressora e acaba utilizando de recursos para que assim consiga vencer a dureza da formalidade e garanta a sua sobrevivência.
Em presença de uma autoridade, ele acaba utilizando de recursos emocionais como, por exemplo, se existe algum conhecido, uma cidade ou qualquer coisa em comum que possa ter uma ligação emocional para que possa criar assim um ambiente mais simpático e gentil.
Este recurso é facilmente empregado para sensibilizar a autoridade que também é exercida por um brasileiro, para que ele assim possa se identificar e lhe conceder o que ele precisa. E quando esse ambiente é favorável, ele geralmente consegue alcançar com êxito o seu objetivo estipulado.
Em contrapartida, nos Estados Unidos, não há tolerância e permissividade quanto às leis. Em outras palavras, não há exceções às regras como é bastante comum aqui, no Brasil.
Lívia Barbosa
A antropóloga brasileira Lívia Barbosa escreveu uma obra intitulada “O jeitinho brasileiro”. Nele, a autora apresenta uma ambiguidade do conceito de Jeitinho brasileiro que, segundo Barbosa, é uma forma especial de se resolver um determinado problema ou ainda uma solução criativa utilizada para questões de emergência, em que se pode empregar formas relacionadas, habilidades, conciliação ou ainda a esperteza.
Em todo o caso, o termo Jeitinho brasileiro e seu conceito é utilizado quando há uma necessidade. Entretanto, o jeitinho pode ser visto como um favor ou, como em alguns casos, uma forma de corrupção.
Sendo assim, quando se decide pedir um favor, preferencialmente se faz a uma pessoa que possui determinado grau de conhecimento, o que lhe permite assim certa proximidade.
Jeitinho Brasileiro e a amizade
Uma alusão bastante comum feita ao termo Jeitinho brasileiro é que a mesma carrega em si traços de amizades necessárias para que os objetivos possam ser mais facilmente alcançados.
Historicamente, já era sabido que os comerciantes holandeses tinham muita dificuldade em negociar com os brasileiros, pois era preciso fazer uma amizade com este último. Por ora, é desta época que começou a ser utilizado um adágio em que era comum dizer que “aos inimigos as leis, aos amigos tudo”.
Na mídia
Tanto na mídia quanto na literatura brasileira, é comum encontrar alguns personagens populares que possuem características que exemplificam melhor o que é o Jeitinho brasileiro. Um deles é o personagem Pedro Malasartes, do livro Malasaventuras, de Pedro Bandeira, que se encontra enraizado no folclore popular brasileiro, embora sua origem seja portuguesa.
Outro exemplo de Jeitinho brasileiro encontrado na literatura é João Grilo, personagem criado pelo escritor Ariano Suassuna em sua obra O Auto da Compadecida.
Em outros países e idiomas não se encontra uma equivalência direta e objetiva entre os possíveis termos. A ideia e noção do jeitinho se aproxima de algumas línguas como as seguintes: la mordida (México), La salida (Peru), Viveza criolla (Argentina) e Bustarella (Itália).
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