Música Chão de Giz

Chão de Giz é uma das canções mais famosas de Zé Ramalho e também uma das mais regravadas. Zé Ramalho é um dos maiores expoentes da MPB, e, como compositor, tem belas letras, cheias de poesias e inteligentes metáforas. Mas a poesia é, às vezes, complexa de ser desvendada. Mesmo assim, o efeito das canções de Zé Ramalho é capaz de encher os corações do público de emoção, principalmente por conta de suas letras de amor. Elba Ramalho gravou Chão Giz no álbum O Grande Encontro, junto com Zé, seu primo, em uma versão ao vivo.

A história por trás da canção

Há uma história real por trás da música Chão de Giz de Zé Ramalho, contada por ele mesmo. Quando bem mais novo, o músico se apaixonou por uma mulher bem mais velha, já casada com uma figura importante do Estado da Paraíba, onde moravam. Por conta disso, o caso de amor não deu certo, a paixão foi devastadora e ele até mudou-se de casa, pois morava perto dela, compondo a música durante esse período enquanto se recuperava do fim de uma relação amorosa que não deu certo. Portanto, trata-se então de uma canção sobre o amor não correspondido, triste dor da vida de um poeta.

Interpretação da letra de Chão de Giz

Por ser cheia de metáforas, o significado da letra da música Chão de Giz de Zé Ramalho pode ser difícil de ser compreendida pelos que não estão tão familiarizados com a linguagem poética. Porém, entendendo a história por trás e analisando cada trecho da música, é possível realizar uma boa interpretação.  

“Eu desço dessa solidão e espalho coisas sobre um chão de giz”

Enquanto se sentia sozinho, se põe a relembrar as memórias do passado. O “espalhar”, em um sentido figurado, é como se usasse essas memórias para se sentir menos sozinho. O giz, material poroso, quebradiço, remete a um relacionamento fugaz, que não é sólido – a ideia de um chão de giz é de mostrar algo que deveria ser firme, um chão, com essa característica do passageiro, desgastante.           

“Há meros devaneios tolos a me torturar”

As lembranças de um amor que não deu certo são sempre torturantes, que nos levam a devanear sobre os motivos e os momentos passados.

“Fotografias recortadas em jornais de folhas, amiúde!”

Diz-se que Zé Ramalho colecionava fotos recortadas da sua amada quando ela saía no jornal, já que ela era membro da alta sociedade.

“Eu vou te jogar num pano de guardar confetes”

Ao “jogar” a amada em um pano de guardar confetes, espécie de saco para retalhos que as costureiras usam no Nordeste, ele quer dizer que vai tentar esquecê-la de vez, como se ela fosse um retalho de sua vida.

“Disparo balas de canhão, é inútil, pois existe um grão-vizir”

O disparar das balas de canhão representam suas tentativas frustradas, grandes e fortes como balas, mas inúteis, porque já existe alguém ocupando o posto que ele gostaria: o esposo rico.

“Há tantas violetas velhas sem um colibri”

As violetas velhas podem ser consideradas as senhoras, belas, que não possuem um admirador jovem como um colibri (outro nome para o beija-flor). Ele demonstra uma intenção de buscar outras senhoras que lhe darão atenção e amor.

“Queria usar quem sabe uma camisa de força ou de Vênus”

Nessa frase, ele aproxima sua paixão à loucura: a camisa de força, utilizada para conter pessoas em surtos, e a camisa de Vênus, a camisinha: para ele, quase não há distinção.

“Mas não vou gozar de nós, apenas um cigarro”

A palavra gozar tem antes um significado de aproveitar, curtir. Como ele não conseguirá ter bons momentos ao lado dela, diz que aproveitará, no lugar disso, apenas o saborear fugaz de um cigarro.

“Nem vou lhe beijar, gastando assim o meu batom”

Uma ironia: tenta arranjar um motivo pelo qual seria interessante não conseguir beijá-la, que seria o caso de borrar o batom dele; mas, não usando batom, o que resta é apenas a triste afirmação de que não conseguirá beijá-la, mesmo querendo.

“Agora pego um caminhão na lona, vou a nocaute outra vez”

Pegar um caminhão remete a pegar estrada, mudar de caminho. O nocaute simboliza a falta de esperança quanto ao amor.

“Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar”

Uma demonstração de que estará sempre pensando nela, ou sofrendo as mazelas de seu amor não correspondido.

“Meus vinte anos de boy, that’s over, baby! Freud explica”

Boy é uma expressão usada para os homens que são usados como meros brinquedos sexuais pelas mulheres. O trecho sobre Freud pode ser uma sugestão do complexo de Édipo mal resolvido.

“Não vou me sujar fumando apenas um cigarro”

O cigarro, prazer efêmero, é nesse caso comparado à paixão que foi o relacionamento dos dois. Já convencido de que não mais quer se humilhar, ele decide desistir.

“Quanto ao pano dos confetes, já passou meu carnaval”

O Carnaval é o grande momento de festa, algazarra, diversão. Quando diz que esse momento já passou, está decidido a seguir em frente.

“E isso explica porque o sexo é assunto popular”

Há certa desesperança quando percebe que, para ela, a relação era apenas sexo: esse ato que gera loucuras e desperta paixões e tanto se fala, tanto se sofre por isso.

“No mais, estou indo embora!”

Por fim, após o “desabafo”, depois de passar pelo período conturbado que é esquecer uma paixão, ele resolve seguir em frente.

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